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quinta-feira, 12 de julho de 2012

A FOFOQUEIRA DO VELÓRIO




Vocês sabem bem com são as pequenas cidades do interior. Não tem nada para se fazer e o que se faz de melhor nesses lugares é fofoca. Não podia ser diferente em Guaraná, minúscula cidade que fica no noroeste goiano. Lá vive Marina, pessoa que mereceria um lugar no Guiness como a maior fofoqueira da humanidade, e sua grande especialidade é falar mal da vida dos outros em velórios.

Em todo velório, ela passava a noite toda indo de um em um e cochichando alguma fofoca, mas o que deixava todo mundo curioso é que, sempre, no momento de por a tampa no caixão, ela dava um pequeno chilique e dizia:

- Deixe eu dar um último abraço no falecido....abraçava o caixão e punha sua cabeça ao lado da cabeça do defunto.

O que ninguém sabia, é que isso não era um grande carinho e sim uma oportunidade secreta e mórbida de falar uma última fofoca na orelha do defunto. Todos achavam a cena sempre muito estranha, porque ela fazia isso com todos, mas como já era uma tradição na cidade, engoliam!

Nessa mesma cidade, morava Carol, uma moça linda que encantava qualquer um com sua beleza e simpatia. Mas a maior qualidade de Carol, não era essa. Carol sempre foi muito esperta e muito perspicaz. Ela resolveu descobrir o segredo do abraço fúnebre da amiga. Aquilo não cheirava bem.

Um belo dia, Carol pediu a Marina que fosse em uma cidade vizinha buscar uma encomenda para ela. Pediu a uma amigo que a levasse lá, em seu carro, e assim foi feito. 

Quando ela saiu da cidade, Carol foi na rádio local e anunciou para todo mundo que haveria um velório à noite que era uma brincadeira. O pseudo morto seria o Sr Benedito, um velhinho de quase 90 anos muito querido por todos na cidade.

Circo armado, velhinho no caixão cheio de flores, toda a cidade fingindo chorar no velório e chega a Marina, esbaforida se derretendo em lágrimas. Deu um abraço na viúva e começou a fazer o circuito de fofocas.

O padre então resolveu antecipar o sepultamento e mandou fechar o caixão. Marina seguiu o seu ritual, deu seu último chilique, abraçou o caixão, foi no ouvido do Sr. Benedito e disse:

- O Sr. nem esfriou e o Zequinha da farmácia já está de olho na sua mulher!

Imediatamente Sr. Benedito esbravejou:

- Como é, Marina???

Claro, Marina só conseguiu virar os olhinhos antes de cair para traz desmaiada, esturricadinha.

Tiraram o Sr. Benedito do caixão, colocaram a Marina lá dentro, puseram a tampa e começaram a caminhar em direção ao túmulo, com todos, quase em coro, chorando e gritando:

- Pobre Marina, morreu tão nova nossa fofoqueira.

Nisso ela acordou, percebeu o que estava havendo e começou a esmurrar a tampa do caixão por dentro e gritar: - Parem, eu estou viva.

Dez minutos depois, quando Marina já estava rouca de tanto gritar e após Carol ter feito xixi nas calças de tanto rir três vezes, resolveram abrir a tampa do caixão e o padre perguntou a ela:

- Apendeu a lição, Marina??? Ou será que ainda tem alguma fofoca para contar para nós???

Escrito por Helio Faria Junior

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O PRÊMIO DA TIA IRENE




Irene não é minha tia, é só uma forma carinhosa de chamá-la. Um dia, Tia Irene resolveu fazer uma faxina geral na casa dela. Como dizem os programas de qualidade, fazer um 5S e jogar fora tudo que não prestava e começou pelo armário de uma sobrinha que morou com ela muitos anos.

Começou a achar um monte de cacareco velho, meias de um pé só, camisetas que pareciam ter sido metralhadas de tanto buraco de traça e de repente encontrou um livro antigo. Abriu o livro, deu uma folheada e na contracapa final encontrou uma ficha de biblioteca marcando a data de entrega para 3 de julho de 2004.

Pobre tia Irene. Logo ela que paga todas as contas no dia que elas chegam, jamais atrasou uma conta sequer, jamais usou cheque especial para não pagar juros e encontra um livro com entrega atrasada por oito anos.

Quase chorou ao ver, mas seu senso de cidadania, patriotismo e honestidade fez com que ela imediatamente se arrumasse e fosse para a biblioteca da Universidade Federal, morta de vergonha, devolver o livro.

Chegando lá foi atendida por uma gralha, de óculos no meio do nariz e voz esganiçada que sequer olhou para a tia Irene e já foi entrando no computador com o código do livro e dizendo:

- 2923 dias de atraso, multa, juros, juros de mora, capitalização, correção monetária, multa de sobre atraso.....hummmmm.....tudo fica em R$ 62.446,39!

Tia Irene quase caiu dura e torta para trás. Apesar de ser uma pessoa doce e educadíssima, perdeu as estribeiras, e começou a dar um chilique, falando alto e muito séria com a moça.

- A senhora está maluca, isso é mais do que o valor da minha casa. Estou aqui cumprindo um dever cívico e não para ser extorquida desse jeito.

- Não posso fazer nada, repetia insistentemente a gralha!....enquanto, sutil e disfarçadamente ligou para a segurança, que chamou a polícia que chegou em cinco minutos com a imprensa que imediatamente fotografou a Tia Irene arrancando os cabelos e postou na Internet: LADRA DE LIVROS É PRESA NA UNIVERSIDADE FEDERAL, com a foto dela do lado, histérica.

A coisa bombou na internet em segundos, milhões de acessos e logo a tal sobrinha ligou no celular e disse:

- Tia, se você queria um livro, era só falar para mim que eu pegava na biblioteca da Universidade.

-Ahhhhhhhhhhrg! Foi tudo que tia Irene conseguiu gritar, enquanto quatro policiais tentavam segurá-la.

O reitor da Universidade, sabendo do caso e levando em conta o gesto digno e patriota da Tia Irene, determinou que a bibliotecária apenas recebesse o livro sem custas.

De tanta visita na internet para ler a história, o livro se tornou um Best Seller e a Editora mandou para a Tia Irene um cheque que deu para ela concluir as reformas da casa e realizar seu grande sonho que era viajar para a Europa.......sem a sobrinha, lógico!!!

Escrito por Helio Faria Junior.