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sexta-feira, 10 de junho de 2016

UM BANQUINHO NO BOX


É engraçado como muita gente tenta rotular você de velho quando a idade vai chegando.  Temos que lutar contra nossas novas limitações que aparecem a cada dia e contra essas pessoas que parecem acreditar que nunca ficarão com mais idade.

Dias atrás relutei com a possibilidade de colocar dentro de meu box um banquinho de plástico para auxiliar no banho, por pensar que era coisa de velho, mas acho que todo mundo deveria experimentar para ver como é bom.

A primeira coisa em que o banquinho ajuda muito é o fato que você poder sentar, fechar os olhos, virar a cabeça para cima e deixar a água morna cair em sua testa e escorrer pelo seu corpo, nem que seja só por alguns segundos. Sentiu??? É bom demais.

Depois, para lavar pernas e pés é ideal. Você fica em pé, põe um pé de cada vez no banco e ensaboa, esfrega e enxágua sem ter que se curvar muito. E não venha me dizer que dor nas costas ou lombar é coisa de velho por que não é não. Até atleta sarado tem.

Para as pessoas que gostam de tomar banho a dois, aí que é melhor ainda. Fora os assuntos não inerentes especificamente ao banho, já pensou em você sentado em um banquinho, seu amor em outro banquinho bem à sua frente e você esfregando as costas dela??? Deu asas à sua imaginação, não foi???

Para mulheres é ideal e sem contra indicação, mas para os homens, principalmente os de mais idade, há uma contra indicação. Quando você está pelado e faz o movimento de se sentar, a tendência é que a parte de seu corpo que abriga os coquinhos vá para trás, e sentar sobre os dito cujos  é uma dor quase impossível de descrever em palavras.

As mulheres riem dessa situação mas não têm ideia da dor que isso causa. A sensação que nós homens sentimos é que ficamos com gânglios no pescoço, saca??? Dói lá de baixo até em cima e parece que cada uma de nossas bolas parou em baixo de cada uma de nossas orelhas.

Bem, esta é a única contra indicação merecedora de muita atenção. No mais o banquinho no box é ótimo porque até se você cair quando estiver sentado nele, vai cair de uma altura menor do que se estivesse em pé e com certeza o estrago será menos. Fica a dica!!!


Escrito por Helio Faria Junior

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

REPOLHO REFOGADO COM OVO



Neste início de ano, minha mãe, já com certa idade levou um tombo no banheiro e cortou o rosto onde levou vários pontos. Resolvi então ir ao Rio de Janeiro vê-la, já sabendo que mesmo machucada, ela ia preparar uma comida que eu adoro que é língua de boi, pûre de batatas e repolho refogado com ovo. Tipo bife à cavalo, só que no caso seria repolho à cavalo.

Cheguei bem tarde da noite e no dia seguinte no almoço tinha minha comida predileta, é claro. O único problema desta comida é que após ingeri-la, passo por longo período de constantes e repetidas flatulências que são absolutamente necessárias para que meu organismo não estoque gases.

Antes do almoço, bebi três cervejas, acho que para dar uma incrementada no que estava por vir, almocei fartamente e sem me lembrar que certamente eu teria um largo período de fluidificação, resolvi ir ao centro da cidade de metrô.

Andei dois quarteirões até chegar na rua Voluntários da Pátria, parei ao lado de um poste, aguardando o fluxo de veículos melhorar para atravessar a rua.

De repente, senti uma rebelde flatulência no interior de minhas tripas, pressionando de dentro para fora o último portal de meu aparelho digestivo que ameaçou se abrir diversas vezes para liberar a meliante. Olhei para os lados e percebi que era horário de saída de escola pois havia uma montanha de crianças em meu derredor. Encostei meu ombro e a parte lateral de minha cabeça no poste e comecei a suar frio, na certeza de que aquela guerra estava perdida.

Antes de escorrer o terceiro litro de suor, o trânsito parou, as crianças atravessaram a rua e estando sozinho resolvi alforriar aquela contida flatulência para que ela ganhasse o mundo.

Não percebi que do outro lado do poste havia chegado uma senhora já bem idosa, cheia de sacos, saquinhos e sacolas nas mãos e um afrodescendente de pouco mais de dois metros de altura. Quando pensei que iria receber uma bela surra, ouvi a velhinha esbravejar, olhando para nosso companheiro de história:

- Deste tamanhão e fazendo essas coisas no meio da rua, safado, porco...

O rapaz atravessou a rua na frente, a senhora foi pertinho dele xingando suas gerações passadas e futuras e atrás, fui eu, aliviando definitivamente as pressões carbônicas de meu interior.

Pegamos o ônibus que nos levaria ao metrô, me sentei no primeiro banco, ao meu lado, desafortunadamente, sentou o grandão e atrás de nós, a senhora.

Vocês sabem que nestes acontecimentos, sempre sobra um resquício gasoso e a senhora foi xingando, batendo com o guarda-chuva na cabeça do grandão e gritando:

-Fez la fora e agora veio fazer aqui dentro, seu porcalhão imundo....

Desci do ônibus cabisbaixo e com a consciência pesada porque afinal, o cara estava apanhando por minha causa. Desci na estação do metrô contendo nova revolta no trampo final do aparelho digestivo, mas segurei bravamente e quando ia entrando no trem levantei a cabeça e vi lá dentro a velhinha e o grandão que me olhou com ódio no fundo de meus olhos e disse:

- Pelo meu bem e pelo seu, é melhor você pegar outro trem...

E o trem do metrô deslisou suavemente rumo ao centro da cidade, deixando a mim, solitário na plataforma, fazendo o que era necessário fazer...

Escrito por Helio Faria Junior