O PRIMEIRO VÔO DE UMA CAIPIRA

Ontem retornei de Campo Grande/MS onde fui cumprir me dever cívico e democrático do voto, coisa que eu não fazia há 22 anos. Na fila do check in  do aeroporto, uma senhora muito distinta, se preparava para embarcar uma moça, que tinha o ar de jamais em sua vida ter saído da fazenda em que morava nos confins de Costa Rica/MS. Uma típica criatura que saiu da roça mas a roça não daiu dela.

Me perguntou se eu ia para Goiânia, respondi que sim, daí ela me disse o seguinte:

Esta aqui é Bibica, é a primeira vez que entra em um avião e está indo para Caturaí/GO, passar uns tempos na casa da madrinha dela que vai esperá-la no aeroporto, será que você podia orientá-la no vôo, ela não conhece os procedimentos.

Respondi que sim e marcamos o assento dela ao lado do meu. Desse momento em diante, a moça grudou no meu braço e foi o maior sufoco para desgrudá-la do meu braço quando eu quis ir ao banheiro na sala de espera. Ela não queria me soltar de jeito nenhum.

Quando saí do banheiro, consegui ver Bibica melhor e notei que era bem bonita e seus olhos azuis, enormes estavam cheios de água e de seu rosto saiu um maravilhoso sorriso que iluminou toda a sala. Novamente grudou em meu braço e chegava a me machucar, de tanto que me apertava.

Na pista, havia vários aviões, e enquanto caminhávamos pela pista em direção ao nosso, ela meigamente me perguntou:

- Você sabe mesmo qual é o avião que a gente tem que pegar???

Só dei um sorriso e assenti que sim com a cabeça. Entramos no avião, sentamos em nossos lugares e notei que Bibica estava gelada, apavorada, tremendo....Quando passou a aeromoça contando com as mãos a quantidade de passageiros que havia, duas lágrimas rolaram em seu rosto e ela disse:

- Tem alguma coisa errada, aquela mocinha de azul e chapeuzinho cruzou o corredor, de cabo a rabo,  abençoando todo mundo. Esse troço vai cair.

Dei muita risada com isso e com as coisas que Bibica fez durante o vôo, tais como, perguntar para a aeromoça o preço da coca e da barra de cereal, soltar um gritinho fino a cada turbulência, o que provocava uma gargalhada geral, me fazer ficar na porta do banheiro para ela fazer xixi e procurar a manivela para abrir a janela do avião, isso sem contar uma dezena de vezes que ela me perguntou se ia ter baldeação.

Bibica só sossegou quando eu disse a ela para prestar atenção nas nuvens para ver os anjos que tem lá sentados tocando harpa, só assim consegui que ela soltasse o meu braço e  só então eu cochilei um pouco..

Chegando em Goiânia, entreguei Bibica para sua madrinha e vi as duas sumirem no estacionamento, só aí, percebi o tanto que Bibica era interessante......estou pensando até em fazer umas visitas em Caturaí!!!  O que vocês acham???

Escrito por  Helio Faria Junior