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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

UM TROGLODITA NA ERA CIBERNÉTICA


Lembro de quando eu conquistei meu primeiro emprego. Saí de casa com uma pastinha tipo 007 cheia de papéis, relatórios, uma régua de cálculo, uma lapiseira, uma caixinha de grafite, três canetas BIC (azul, preta e vermelha) e todas as informações que precisava estavam dentro da minha cabeça. Era interessante que ninguém roubava essas pastas porque todos sabiam que lá dentro só tinha papel. 
 
Chegando no trabalho, pegava três folhas de papel sulfite com carbono entre elas, enfiava em uma máquina de datilografia mecânica e começava um novo relatório. Uma das folhas virava a correspondên cia, a segunda ia para um processo e a terceira para uma pasta suspensa. A gente não perdia nada e se um dia precisasse de mais uma via, tirava uma cópia XEROX. 
 
Hoje de manhã, ao sair de casa eu me vi carregando a parte da frente de um toca CD’s do meu carro, o controle do portão, quatro PEN DRIVE’s, uma MEMÓRIA AUXILIAR, dois celulares, um IPAD, um IPOD, um TABLET, um NOTEBOOK, todos com seus carregadores e o ITOKEN, que me permite acessar minha conta pela internet porque a agência em que eu tenho conta fica em outro estado. 
 
Na saída de casa, faltou luz no prédio e o portão eletrônico não quis abrir de jeito nenhum, resultado, fui à pé trabalhar porque era impossível conseguir um táxi, os ônibus estavam entupidos e eu não conseguiria entrar em um coletivo com aquele monte de cacareco nas mãos. 
 
No caminho tentei telefonar para o escritório e verifiquei que nada funcionava porque faltou luz toda a madrugada e todos os meus aparelhos estavam descarregados. Começou a bater um pânico que vocês não imaginam. 
 
Cheguei no escritório e todos estavam na rua porque a fechadura era eletrônica e com senha e não funcionava por causa da falta de energia. Voltei para casa angustiado e com medo de ser assaltado uma vez que todos os meus conhecimentos estavam armazenados naqueles equipamentos eletrônicos e na cabeça eu só guardava um monte de senha. Sem tudo aquilo, não sou ninguém, pensei! 
 
Cheguei de volta em casa, subi pelas escadas, peguei uma velha máquina de escrever empoeirada, papel sulfite, carbono, datilografei meu relatório, fui até os CORREIOS e enviei o documento por SEDEX 10 assim , no dia seguinte cedinho, ele estaria nas mãos do meu chefe. 
 
Como todos os meus colegas de trabalho têm menos de trinta anos, não souberam o que fazer e como fui o único a conseguir por o relatório na matriz de nossa empresa fui também o único a ser promovido e a ter aumento de salário. 
 
Ainda bem que sou um troglodita na era cibernética. Nada como ter sobrevivido aos tempos onde nada disso existia!!! 
 
Escrito por Helio Faria Junior 

4 comentários:

  1. Caro Troglô. Você pode substituir pen drives e memória auxiliar por Cloud Computing. Assim vai se livrar do excesso de bagagem e do medo de ser assaltado, além dos seus arquivos ficarem iguais a anjinhos - nas nuvens. Com a vantagem de poder acessá-los de qualquer lugar. Consegue visualizar seus arquivos todos acomodados em nuvens branquinhas à sua disposição?

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  2. Parabens pelo texto e, especialmente pela reflexao....em tempos de sentimentos "liquidos" nosso cerebro parece ter sido transferido para os pen-drives!

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  3. Meu pai meu orgulho..ótimo texto pai. Adorei a reflexão tb.
    Hj em dia dependemos demais dessas coisas e acabamos pensando de menos ;)!

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