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quinta-feira, 16 de maio de 2013

MINHA PRIMEIRA E ÚLTIMA NÃO SERENATA



Arrumei uma namorada fazendeira, um amor de pessoa, muito doce mesmo. O nome dela é Teofoclina Inês Cardoso Almeida a quem carinhosamente juntamos as iniciais de seu nome e a chamamos de TICA. O nome dela é uma tragédia formada pela junção dos nomes dos avós, Teófocles e Inara. Fico pensando se a ideia dos pais era de batizá-la ou de castigá-la  por ser temporona.

Um dia visitei a fazenda e conheci seu cachorro BOB. O bicho era tão grande que eu pensei que era um pônei, mas não era, era um cachorro mesmo. Quando chegamos ele se deitou nos pés dela miando como um gatinho mimoso , muito dócil mesmo.


O problema dela era o pai e os irmão que eram muito bravos e cada um tinha uma espingarda 12 de cano duplo e tinham a fama na cidade de valentes atiradores em namorados das moças da família.


Um dia descobri que eles iam para São Paulo e a Tica ia ficar sozinha na fazenda. Resolvi então fazer uma serenata para ela já que não haveria ninguém para atrapalhar. Pessoas como eu que já passaram dos 30, geralmente são românticas à moda antiga e ainda gostam de serenatas, ainda mais eu que nem lembro mais há quanto tempo passei dos 30.


Como a chegada na sede da fazenda era uma ladeira, e era noite de lua cheia, desci com os faróis apagados e o carro desligado. Sem fazer barulho, abri a porta do carro, peguei meu violão e fui caminhando rápido em direção à janela do quarto dela.


De repente vi uma coisa imensa correndo em minha direção. Não quis pagar para ver o que era, corri desesperadamente na direção do carro e me joguei lá dentro, fechando a porta com a ponta dos pés em pleno voo.


Bob bateu com as duas patas na capota do carro e ficou latindo e babando na janela fechada. Acho que ele estava muito feliz porque ficou ali  meia hora me mostrando todos os seus enormes dentes.


Eu só ouvi Tica gritar: - Quieto, Bob!!!


Toda vez que eu ameaçava abrir o vidro ou a porta do carro, Bob, que estava deitado ao lado da porta do motorista, se levantava e me mostrava seus dentinhos de novo.
Gritar por socorro para a Tica me buscar seria a maior vergonha, então resolvi ficar quieto e acabei por dormir.


Sei lá que horas da madrugada, acordei com uma luz de lanterna muito forte no meu rosto e quatro canos duplos encostados no parabrisas do meu carro. Todos apontando para mim. Eles tinham perdido o avião.


E foi assim que por livre e espontânea vontade fiquei noivo da Tica. Naquele momento entre os dentes do Bob, as balas das espingardas ou uma promessa de casamento, achei que a terceira opção seria a mais saudável. Mesmo assim, eles me prometeram que se me vissem depois do por do sol a menos de dez quilômetros da fazenda, iriam mandar bala.


Ô povo rústico!!!


Escrito por  Helio Faria Junior

2 comentários:

  1. Izabella Batista Tito Caetano17 de maio de 2013 às 07:24

    Mais uma vez escreveu um texto ótimo. PARABÉNS!

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  2. Obrigado Izabella, você é um amor!!! Obrigado pelo comentário!!! Bjo

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