O DIA DA MINHA MORTE NÃO CHEGOU

        Sabe aqueles dias que quando acabam,  você tem absoluta certeza que não deveria ter saído da cama??? Pois é, ontem foi um desses dias em que acordei com o pé esquerdo.
        Precisei viajar para Campinas a trabalho e como voltaria  no mesmo dia,  não levei bagagem nenhuma. Tudo correu normal, até o momento de voltar para Goiânia. Começou cair um toró tão forte, que o táxi parou numa faixa de pedestres e quatro pirarucus cruzaram a frente do carro. Chuva para gente grande, não dava para enxergar um palmo na frente do nariz.

        Não deu outra: Aeroporto fechado,  nos mandaram para um hotel, isso lá pela meia noite  de um domingo chuvoso. Tudo fechado. Comi alguma coisa rápida, tomei um banho, onde lavei minha cueca e minhas meias com aquele sabonetinho ridículo de hotel, depois torci tudo no meio de uma toalha e sequei no secador de cabelos. 
        De manhã cedo, com a barba por fazer, saindo do quarto, a nojenta da arrumadeira perguntou: - O senhor já vai embora?  Senti vontade de dizer: - SENHOR O CACÊTE, SOU UM MENINO!
        É lógico que sou um menino... Sempre fui só que agora a carcaça estragou um pouquinho... Isso já me deixou meio avermelhado, com raiva, irado. A mocinha era nova e eu não perdi a oportunidade e disse: - É vou embora, mas deixei umas balinhas para você levar para os seus netos... Rsrsrs... Acabei com ela. 
        Irritou-me, mas, acalmei, respirei fundo e desci para tomar o café da manhã. A cueca também, estava me pinicando, porque cueca lavada sem amaciante pinica e isso é muito irritante; você não pode se coçar naqueles lugares toda hora. 
        Peguei um suco, uma torrada, manteiga sem sal, porque é só o que tem nesses hotéis e outra mocinha me perguntou: - O senhor vai querer omelete?  Quase mandei enfiar a omelete nas trompas de Eustáquio (para as incautas mentes sujas, as trompas de Eustáquio ficam no ouvido e as que vocês estão pensando se chamam de Falópio), mas sorri amareladamente com um lado só da boca e não disse nada. 
         Nesse estado de espírito, cuspindo marimbondo aceso, peguei o ônibus da sala de embarque em direção ao avião, e fiquei em pé. Quando o ônibus andou, uma louca que estava sentada atrás de mim, de uns trinta e poucos anos, potrancaça, foi se levantando e me perguntou: - O senhor não quer sentar aqui, vovô???
        Ahhhhhh!!!! Chamou para porrada...Respondi na lata da maluca, que eu não tomaria o lugar de uma grávida.....Bem, o barraco  todo  se formou,  por terem tratado desse jeito um menino como eu,  vocês podem imaginar o que senti... Achei que tinha chegado o dia de morrer, porém, respirei pausadamente e tudo passou!!!

Por Helio Faria Junior