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domingo, 20 de novembro de 2011

O ESPERMOGRAMA



Vocês sabem como é aquela história de que uma piada puxa a outra? O mesmo acontece com as histórias, onde uma história de padre puxa outra e uma história de médico puxa outra. Hoje vamos falar sobre REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA. E olha que no meu caso, foi assistida por muita gente, ou quase......bem, mas vamos à história.
Eu e minha esposa, ambos no início do segundo casamento, cheios de expectativas de acertar desta vez , mas, já tínhamos cinco filhos, eu tinha um casal e ela, três cuecas!!! Todos os meses em que a menstruação atrasava dez minutos eu dizia que ela estava grávida e isso foi  criando em nós a vontade de termos um filho em comum , preferencialmente menina.
Como ela já era ligada, fomos a um médico que começava a fazer o processo de fertilização in vitro  em Campo Grande/MS, mas isso lá pelos idos de 1997, ou seja, no final do milênio passado!!! E prá começar a falar sobre os assuntos, o médico pediu uma montanha de exames dos dois, com muita conversa não precisamos reencarnar os antepassados para fazer exames neles também. E lá fomos nós fazer exame de sangue, de fezes, de urina, de cotovelo, de calcanhar de zóio, zovido, zoreia e zunha. Fizemos exames de tudo o que vocês possam imaginar, mas ainda faltava um. Isso mesmo!!! O famigerado espermograma !!!
Não é por nada não, mas pedi à minha esposa, para me acompanhar ao laboratório que eu queria ir. Mas como vocês sabem, nós não sabemos de nada e elas entendem tudo. Até da porra da porra elas sabem mais que nós!!!
Não, disse ela no auge de sua sapiência, esse laboratório não é bom (ela nunca tinha ido nele, não sabia nem onde ficava), vamos no meu que é moooooointo melhor e muito mais vazio.....e de bolsa na mão e nariz em pé já foi saindo sem que eu conseguisse acabar de dar aquela respirada que eu estava dando para contestá-la. E lá vai o bestão para o laboratório dela, o "muito melhor"!!!
Prá começar, o laboratório ficava quase no centro da cidade....sacou?... centro da cidade, começamos mal. Não achava lugar para estacionar nem uma patinete, que dirá um carro, mas tudo pela nossa filha, 68 voltas no quarteirão e em menos de setenta e doze minutos conseguimos estacionar. O flanelinha chegou junto de mim e eu achei que ele ia dizer: - Vai bater umazinha, dotô... e eu já me preparei para dar um pescotapa nele......bobagem, eu é que estava nervoso, impressionado, ele não disse nada além do tradicional - Posso dar uma olhadinha???...
Muito bem, caminhamos em direção ao laboratório. Quando chegamos próximos, olhei para o prédio e parecia liquidação das Casas Bahia. Duas mil pessoas se acotovelando na porta esperando abrir pra se jogar para dentro da loja e se abraçar na primeira geladeira que encontrasse...
Entramos em uma das 14 filas que tinham lá com 8 mocinhas e seis gays atendendo. O que seria pior? A mais velha da turma parecia ter dezenove anos e meio...Dei uma olhadinha para Dona Encrenca para ratificar a ela que aquele laboratório era mooooointo melhor que o meu, mas ela já estava lá do outro lado, sentada em uma cadeira de espera, com uma revista na frente do rosto. Só pude ver os olhinhos dela me dizendo: Danou-se, amor....e um sorriso sarcástico. Eu parecia um zagueirão, ombro a ombro com o atacante da fila do lado. Parecia que só tinha mulher naquele laboratório, mas deve ter sido impressão minha. A única preocupação era: - Como é que eu vou dizer para a mocinha (escolhi a fila certa) o que eu vim fazer aqui, sem que ninguém mais escute???
Chegou minha vez e eu peguei o pedido que eu tinha dobrado onze vezes e enfiado bem no fundo do bolso da calça e entreguei. A mocinha, sem me olhar pegou o pedido, começou a desembrulhar com dificuldade  e soltou um berro: É CONVÊNIO OU PARTICULAR??? Danou-se!!! Se ela gritar desse jeito o nome do exame eu saio daqui de gatinho daqui e só paro em casa de onde só vou sair dois meses depois,....disfarçado, pensei. Eu pigarreei e disse: meu convênio é Saúde CAIXA! sussurrei!!!
Quando ela conseguiu ler o pedido ela disse: Ah!!! só falou Ah!!! Fiz uma breve oração: bendito seja Nosso Senhor Jesus Cristo! e ela levantou dois olhos piedosos me olhando pela primeira vez. 
Vocês conhecem o vidro de Maionese Hellman’s de dois litros? Foi o que ela me entregou. Acho que em dois anos eu não encho um vidrão daqueles! E eu saí em direção à minha esposa com aquilo na mão, tentando esconder, mas como esconder um troço daqueles??? Ela se afundou na cadeira e levantou mais ainda a revista como quem diz: Vai sentar e outro lugar bem longe de mim!!!
Sentei ao lado dela que fingia não me conhecer!!! De repente, uma hora depois, uma voz do outro lado do salão: - SENHOR HELIO FARIA JUNIOR!! Berrou um infeliz que era o dono do laboratório, e lá fui eu, abraçado com o tonel de vidro. Minha doce esposa com a revista enfiada no rosto, nem se moveu, aliás, se sacudia de tanto rir!!! Mas não se dignou sequer a me lançar um olhar.
Quando eu cheguei perto do cidadão que havia berrado meu nome em 400 decibéis, um anjo de candura cochichou alguma coisa no ouvido dele e ele disse: - Ah!!! E me olhou também com ar de piedade. Ufa!!! Acho que meu rosto brilhava de tão vermelho!!!
Me levou para um canto e disse que a sala desse exame estava ocupada com uma senhora passando mal, e se eu me importava de fazer “aquilo” no escritório dele!
Estou na chuva era prá me molhar. Entramos no escritório onde todos os móveis eram pretos, um grada-chuva aberto em cima da mesa, e uma estante só com livros velhos. Imaginou a cena??? Cheiro de mofo, que coisa mais excitante!!! Só faltou dizer que ia trazer o guarda pra me "ajudar".
Ele me entregou uma Playboy com a Maitê Proença na capa e disse: - Fique a vontade, tem um banheiro bem ali. Agradeci, deixei a revista na mesa dele, fiz o serviço rapidinho, embrulhei o tonel num jornal, sai de cabeça baixa, entreguei o embrulho prá mocinha que ficou na porta e acenei para a minha ternurinha que saiu do laboratório com a revista pregada no nariz, chorando de tanto rir......nunca mais quero voltar lá, mas valeu à pena porque nossas filhotas (foram duas gêmeas)já tem quase 14 anos. Depois eu conto o processo de coleta para a reprodução na maternidade!!!
POR HELIO FARIA JUNIOR

5 comentários:

  1. Muito legal... a forma que vc relata os fatos nos faz vivenciá-los nítidamente, e isso dá um toque todo especial.
    Parabéns !!!!

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  2. Me diverti bastante com seu texto Hélio. Qdo tiver continuação da história me avisa.
    Abraço!
    Thays

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  3. Adorei Helio, rí bastante e pude imaginar a cara da Marcia rindo de vc.....continui escrevendo, me avise da segunda parte.
    Abraços!
    Eunice

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  4. Guerreiro,senti vergonha aqui lendo hahahhahaha

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  5. Pude imaginar a sua cara companheiro hahahahahaha

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